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22/09/2007 - ANIVERSÁRIO DE UM ANO DA IRMANDADE DAS SOMBRAS







Neste dia tão importante para a literatura fantástica brasileira, publico aqui meu conto-homenagem a este grupo maravilhoso que ainda está apenas engatinhando rumo a um futuro portentoso nas letras nacionais. Viva a Irmandade das Sombras!











O ÚLTIMO CAVALHEIRO DAS TREVAS



Por Henry Evaristo


(Conto comemorativo ao primeiro aniversário da Irmandade das Sombras)




Richmond não acreditava na possibilidade de que o morto pudesse retornar mas Harmony fora enfático: Ele retornaria após a leitura correta do “Im Reich Der Farbtöne” (1).


Os dois estavam em uma das inúmeras salas escuras do castelo gótico do barão Von Sorian, na Moldávia. Ele havia sido o ultimo representante da Irmandade das Sombras e desaparecera misteriosamente no ano de 2057.


Agora Richmond e Harmony haviam localizado o local incrustado em meio às inóspitas e solitárias montanhas dos Cárpatos. Sem sombra de dúvidas aquele havia sido o lugar de reuniões do grupo de literatos mais perturbador de toda a história da literatura universal; produtores de obras que aterrorizaram o mundo e foram capazes de transformar o senso de horror a níveis globais. Houve muita perseguição à concepção artística da Irmandade; governos americanos e europeus tentaram a todo custo banir suas publicações mas o povo insistia em ler cada um dos novos trabalhos de seus membros. Foram os discursos públicos e campanhas publicitárias cada vez mais agressivas, promovidas pelos governos dos países mais conservadores, que fizeram com que o grupo buscasse o isolamento nas montanhas. Um local escondido dos olhos de todos onde eles poderiam buscar inspiração e concentração total. E foi então que seus temas e suas produções encontraram um nível jamais imaginado nos anais das concepções de arte sombria.


As publicações continuaram de forma clandestina, mas, ainda assim, chegando frequentemente ao alcance de seus leitores nas mais diversas linguas. E houve quem afirmasse, em lugares tão diversos do mundo quanto a África e a Suíça, que a leitura das obras dos escritores era prejudicial à saúde física e mental de quem lia.



Richmond e Harmony, a duras penas e depois de vinte anos, obtiveram autorização do governo local para explorarem as ruínas do velho castelo. Foi entre as inúmeras salas, e em meio a extensas e mofadas estantes de livros, que eles encontraram a passagem para a sala secreta da Irmandade, conhecida como “A câmara dos Tormentos”; porém, daquele lugar escuro e úmido saíram durante o tempo em que os escritores ali permaneceram apenas os mais puros deleites sombrios que um leitor jamais sonhou em desfrutar. Não causavam tormentos ao corpo como queriam crer os puritanos do mundo. E na mente, o único mal que originaram talvez tenha sido a libertação dos afetados deste mundo apenas material oferecendo-lhes mergulhos profundos em vastos e encantados mundos etéreos.



O que Richmond e Harmony queriam era encontrar o lendário corpo insepulto do ultimo representante do movimento. Os outros, todos eles, havia sido descobertos em ruínas abandonadas ao redor do mundo sempre mutilados de forma bastante sistemática. Os dois pesquisadores do insólito encontravam razões para crer que as partes extraídas dos cadáveres estariam naquele local, junto ao corpo do barão Von Sorian. Estes motivos eles cooptavam das leituras e da interpretação da obra máxima da Irmandade, o terrível livro escrito em conjunto por todo o grupo, “Im Reich Der Farbtöne”. Segundo o compêndio, seria possível através da execução de determinados rituais, manter eternamente acesa a chama da imaginação obscura do grupo. Mas, lendo atentamente, e de posse das traduções dos trechos escritos em aramaico, se poderia encontrar “um livro dentro do livro” e este era muito mais terrível. Harmony o lera, e seus cabelos haviam embranquecido do dia para a noite. Para Richmond, sempre menos curioso que o amigo, aquela era a suma confirmação de que o material era sim danoso ao corpo e a alma; todavia, como fã incondicional da obra da Irmandade, nunca se opôs em seguir o outro em sua empreitada.



Os rastros do barão haviam sido seguidos desde sua fonte original, no nordeste brasileiro, sendo elaborada uma detalhada reconstituição de sua trajetória entre a cidade de Salvador e as montanhas dos Cárpatos. Ele adquirira o castelo através do investimento de recursos próprios, muito provavelmente originários de espólios de família. Depois agrupara os irmãos em Londres e de lá partiram para sua ultima morada terrestre.



Depois disso, não se sabe como, seus livros de contos, romances e novelas terríficas apareciam nas bancas e livrarias sempre sem que nenhum funcionário desse conta de sua encomenda e compra. Depois que as atividades cessaram, e os primeiros corpos mutilados foram surgindo, o ultimo livro apareceu numa biblioteca de Amsterdam. Foi lá que Peer Harmony o viu pela primeira vez. Nele descobriu, lendo as entrelinhas, um plano sinistro. Sua casa, nos subúrbios, era repleta de livros de terror e ocultismo. Juntando informações de inúmeras fontes ele entendeu o propósito da obra e assumiu para si a missão implícita ao descobridor. Foi apenas um dia antes de chamar a sua casa o amigo Albertus Richmond que ele terminou a tradução da ultima parte do rito principal. Era uma cerimônia de ressurreição. E dizia que seria dado o poder de dar continuidade à obra da Irmandade das Sombras àquele que, encontrando o cadáver do ultimo cavaleiro das trevas, o reerguesse da morte. As páginas finais do grimório continham todo o planejamento e prática da missa a ser realizada.



No dia 06/06/2076, dezenove anos depois do desaparecimento da Irmandade das sombras, Richmond e Harmony estavam no interior do castelo abandonado para trazê-la de volta.



Não havia o que questionar: O corpo encarquilhado e escuro que jazia em uma pedra de frio mármore negro era de fato o do barão Von Sorian; Porém, ele não era de forma nenhuma apenas isso. Seus membros não eram apenas aqueles com os quais viera ao mundo originalmente; eles estavam misturados, com costuras grossas e malfeitas, aos pedaços retirados dos cadáveres dos outros irmãos das sombras. Suas pernas não eram apenas suas pernas; eram também as de Lord Linx e Lord Henry. Seus olhos não eram apenas os seus olhos, mas também os de Lady Celly e Lady Hell. Todo o seu corpo era um imenso retalho, tal qual um Frankenstein ainda mais horrendo, que agregava as partes de todos os outros membros. Viam-se aqui partes das mãos de Lord Roger Silver misturadas com as unhas de Sir Luciano Barreto e os dedos de lady Mauren Müller; ali, a pele de Lady Catherine costurada aos cabelos de Sir Luiz Poleto e Dom Alexandre Nunes. Via-se na abominação híbrida, um rosto magnânimo: Numa metade era o do próprio Barão; na outra, o da condessa Victoria Magna.



A visão estarrecedora derrubou o livro das mãos de Richmond à primeira vez que ele a avistara de sob a cortina de poeira que se erguera quando a passagem por trás da estante fora aberta. Depois, como ocorre com um odor nefando, ele acostumou-se e não mais sentiu os nervos abalados. Ou curara-se ou não tinha mais nervos. De qualquer forma tinha que se controlar; os planos de Harmony iam muito mais além.



Foi numa sexta-feira que o ritual foi realizado. Uma descrição detalhada de todo o ocorrido seria deveras traumática para o leitor. Opto por partir do ponto em que tudo se tornou tão palpável quanto as pedras das paredes bolorentas do castelo Von Sorian. Tudo o que era necessário à manobra mágica se encontrava na própria câmara secreta. Os autores haviam cuidado de tudo!
Às seis da tarde, quando o sol escoava seus últimos raios avermelhados por entre os picos cobertos por neves eternas dos Cárpatos, Richmond e Harmony iniciaram a missa da ressurreição. Após a consagração dos pontos cardeais aos espíritos da terra, depois que os signos mágicos haviam sido traçados, leu-se a conjuração principal:



“Per Adonai Eloim, Adonai Jeovah!

Adonai Sabbaoth, Metrathon ou Aglamethon!

Verbum Pythonicum, mysterlum salamandrae,Cenventus sylvorum, antra gnomorum, daemonia coelli.

Almosin, Gibor,Jehosua, Evam, Zariathnatmik!

Veni, Veni, Veni

Ego te provoco!

Ego te provoco!

In domine meum!

Veni, Veni, Veni!” (2)



Primeiro foram as velas que se apagaram sem que houvesse vento algum, depois as dobradiças das portas estalaram sem que ninguém as manipulasse. Os livros das estantes, então, saltaram de seus lugares e, espalhados no chão, se abriam e fechavam sozinhos. Lá fora, a noite provinha o ar de sons lamentosos; de gemidos de um quase prazer bestial. Eram como o frenesi de uma multidão cujas vozes se espalhavam pelas florestas e montanhas geladas.


No interior da Câmara dos Tormentos, Richmond e Harmony presenciaram o ressurgir do mito. O nascimento de uma nova era livre. De súbito, a coisa em cima da pedra negra abriu os olhos. E seu corpo foi percorrido por violentos espasmos. No ambiente espalhou-se um forte odor de raiz de mandrágora em meio a densa fumaça azul esverdeada e ouviu-se o som de ossos se partindo quando o ressurrecto tentou se erguer. E ele, o último cavalheiro das trevas, olhando no fundo das almas de seus renovadores, falou, e sua voz era a de todos os irmãos juntos:



“Tu lestes bem nossos ensinamentos!” E enquanto falava se dirigia a Harmony. Depois, encarando com seu rosto retorcido a massa trêmula em que se tornara Albertus Richmond, disse: “Tu, não temas! Não há razão para os teus temores!”.



E continuou:



“Temo eu, pois esta algazarra que vem lá de fora me perturba deveras. O que são, pois, estes gritos, estes risos, estas exclamações?”



Neste momento o pior medo, o horror mais desmesurado, se apossou do coração de Richmond. Não havia meios de prever a reação do ressurrecto à segunda parte do trabalho de Harmony. O que fizeram era para toda a humanidade, mas não se poderia saber se a coisa iria aprovar. Assim, a única ação cabível aos dois mortais mais completamente tomados pelo poder da literatura das sombras, era abrir de uma vez a enorme janela que dava para a paisagem fria do lado de fora.



Num pulo, correram a destrancar e retirar as travas que haviam mantido no escuro aquele quarto por mais de vinte anos. Em menos de trinta segundos as duas partes pesadas do janelão se abriram deixando entrar uma rajada de vento frio que espanou para o ar toda a poeira de muitos e muitos anos. Junto com o vento o som dos gritos de êxtase invadiu os cantos do velho castelo e a coisa que era toda a Irmandade das Sombras levantou-se de seu leito de mármore. Seus velhos ossos estalavam depois de décadas de inércia.



E os sons continuaram pela noite. Repercutindo pelos vales e bosques ao luar. Era um som portentoso, nítido, próximo. Quando o ressurecto alcançou a sacada, a visão que teve o encheu do mais puro e indescritível deleite. Lá, cobrindo toda a extensão visível da terra, mergulhando em direção ao horizonte escuro como um enxame pululante interminável, estavam milhões de pessoas. E elas traziam consigo artefatos luminosos que brilhavam na escuridão.


A coisa que era a Irmandade virou-se para Richmond e Harmony mas não precisou falar.



“Eis aí, mestre! Teus fãs de todo o mundo que vieram celebrar este vosso renascimento. Eu mesmo, e meu amigo, chamamos e convencemos cada um deles a estar aqui nesta noite. Eles são milhões, e o início do teu reino!” Disse Harmony e seus olhos estavam cheios de lágrimas.



“Vê Mestre!” Disse Richmond vencendo o medo em face da emoção. “Cada um trás papel e caneta. Eles querem ouvir o início da nova estória! Fala a eles!”



Então a Irmandade das Sombras avançou mais para fora da janela até um ponto em que já quase se debruçava para o ar. E do umbral ouviu e viu a maior ovação que as forças do mundo já testemunharam. Com um sorriso no rosto ergueu os braços e, depois que a multidão fez silêncio, começou a escrita de uma nova era.




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(1) - “Im Reich Der Farbtöne” = No Reino Das Sombras (N. do E.)


(2) - Ritual de invocação retirado do livro "O caso de Charles Dexter Ward" de Howard Phillips Lovecraft que por sua vez o adaptou ao seu conto extraindo-o da obra "Dogma e ritual da alta magia" do ocultista francês Elifas Levi. (N. do E.)




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Esta é minha singela homenagem para o dia do aniversário deste grupo do qual tenho a honra de participar. Agradeço por todos vocês terem um dia entrado em minha vida, ainda que virtualmente.Alguns membros não foram citados formalmente por este texto mas isso não diminui, de forma nenhuma, sua importância perante o grupo. Todos, como foi visto, somos um só!



Henry Evaristo – 21/09/2006



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Um comentário:

Anônimo disse...

Henry:
Como membro da Irmandade das Sombras, sinto-me autorizado em falar em nome dela. A Irmandade está felicíssima com a linda homenagem que você pretou a ela.
E, em nome próprio, agradeço de coração. Poderia publicar este precioso conto nos Contos Grotescos?
Abraços, irmão!

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