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31.12.08

E ASSIM FEZ-SE TREVAS













E assim, fez-se Trevas...

Marcio Renato Bordin



- Venha!!! Venha!!!

A voz sibilante repetia incessantemente.

- Venha!!! Venha!!!

Os passos inocentes da pequena Mayara seguiam curiosos o estranho chamado.

- Venha!!! Venha!!!

O grande relógio pendurado na parede indicava 3h15m da madrugada. Seus pais adotivos dormiam, sob a benção de Hipnos, atrás da maior porta do corredor. Mayara desce a grande escadaria com destino ao salão principal com certa dificuldade. Suas pequeninas pernas não alcançavam o degrau inferior, obrigando-a a se pendurar no que se encontrava, e com muito custo alcançar o degrau abaixo com as pontas dos dedos. Mas não haveria obstáculo algum que impedisse a inocente garota de seguir o causador de sua curiosidade. Algo comum n’uma criança de cinco anos.

A pequena passa despercebida por detrás do enorme sofá de couro, onde sua irmã mais velha se encontra desmaiada, devido ao consumo excessivo de álcool e haxixe, em frente ao televisor que transmite chuviscos. Mayara encontra a porta da rua entreaberta, deve ser a adolescente que retornou de seu tour pela madrugada em seu rotineiro estado calamitoso, sem condições alguma de fechá-la.

- Venha!!! Venha!!!

Mayara, caminhando como se saltitasse, braços estendidos à sua frente com as mãozinhas abrindo e fechando, divertindo-se tentando pegar a voz, atravessa a rua da cidade que nunca pára forçando os veículos que vinham em alta velocidade a frearem bruscamente. O primeiro, uma D20 prata, quase passou por cima da pequena garota, mas, felizmente, o motorista teve reflexos rápidos para girar todo o volante para sua esquerda. A menina escapou por um triz... A camioneta estava rápido demais, a freada brusca somada à guinada repentina fez com que o veiculo capotasse várias vezes em direção a uma das casas, derrubando tudo que encontrou pelo caminho, passando por cima de um enorme sofá de couro como se fosse feito de papel.

- Venha!!! Venha!!!

Um televisor em curto-circuito. Uma camionete derramando diesel. Combustão, chamas, e não demora muito, explosão. Em questão de poucos minutos o fogo passa a atacar e devorar com fúria tudo que encontra em seu caminho. Tomando em pouco tempo os dois andares da casa. A adolescente que teve a cabeça decepada pelo veículo, perdeu o grande espetáculo de Hefesto em sua nobre moradia. Seus pais , que até então adormeciam no andar superior, acordaram com o calor infernal os devorando. As paredes, em instantes, se tornaram ferventes como brasa. Uma cortina vermelha se estendeu por todos os lados do cômodo, do tapete tibetano ao forro de olmo holandês. Desesperados, a mulher grita os nomes das filhas, enquanto seu marido esmurrava a porta de madeira de teca. Escolheu uma madeira grossa para seu quarto por medo de assalto. Nunca imaginou que sua prudência seria a sua morte. Ele esmurra centenas de vezes, até sentir sua mão assar ao intenso ardor que tomara a madeira. Seus socos de nada adiantavam, e o fogo se espalhava rápido ladeando as quatro paredes do quarto. Subiram, ambos em cima da imensa cama italiana. Sentiram a pele sendo dissolvida ao aproximar das chamas. Gritavam, abraçados no centro do leito. Entre as labaredas vermelhas, amarelas e azuis, viam-se caras e bocas. Faces com bocarra aberta, demônios prontos para devorá-los ao som do fogo furioso, a sinfonia favorita de satã. Os bombeiros chegaram, como sempre, tarde demais. A casa toda fora consumida pela ira de Hefesto. A vizinhança faz silêncio pela fatalidade ocorrida, a morte trágica de um casal de advogados e suas duas jovens filhas.

- Venha!!! Venha!!!

Mayara. Todos pensavam haver morrido carbonizada junto à sua família. Caminhava sozinha. Seguindo a voz persuasiva pelas ruas escuras de uma cidade pecaminosa. Com passos desengonçados de boneca viva. Ela segue em frente. Indiferente aos casais libertinos, levianos, lascivos. Esfregando-se entrelaçados como serpentes no cio. Sem amor, sem pudor, sem vergonha. As bocas se unem ardentemente. As mãos percorrem os corpos. Caricias voluptuosa. As mãos de Réia e Afrodite acariciavam esses mortais com toques lúbricos, libidinosos, em corpos suados e desejosos. Como em rituais orgíacos de adoração às divindades gregas. Quatro casais esfregando-se. As garotas seminuas encostadas no muro, com seus homens às espremendo, tateando, revelando. Sem se importarem com a criança desacompanhada àquela hora da madrugada passeando em um lugar desprovido de decência e bons costumes. Encontram-se concentrados demais em seus hormônios heréticos. A doce Mayara, na inocência de seus 5 anos, não entendeu o que se passava entre os jovens casais. Ela riu ao ver os adultos brincarem, e continuou seguindo a voz vinda do vazio em sua frente.

A pequena se distancia. As caricias dos jovens se tornam cada vez mais ousadas, mais frenéticas. Os corpos fervem. As bocas dos rapazes percorrem os frágeis pescoços das jovens como uma dança sincronizada. Mãos penetram por dentro das calças ou por baixo das mini-saias das garotas. Os movimentos se tornam bruscos. Machucam. Elas pedem para pararem. Não são ouvidas. O desejo de possuí-las os ensurdecem. As jovens gritam, empurram, esperneiam. Mas suas vontades de nada valem agora. As investidas continuam cada vez mais violentas. Machucam os corpos. Ferem as almas. Elas gritam, gritam com toda a força de seus pulmões. Na rua, os carros passam sem que os motoristas nem ao menos virem o pescoço para olhar de onde vêm os pedidos tão desesperados de ajuda. Como se nada de anormal estivesse ocorrendo. Já se acostumaram com esses casais de viciados fazendo escândalos nesse ponto da cidade. Sem se darem conta que dessa vez, as coisas realmente estavam indo longe demais. Elas gritavam, eles riam. Elas berravam, eles gargalhavam. Elas empurravam e eles as estapeavam, esmurravam e riam. Como hienas demoníacas, eles riam. Elas, Phobos; Eles, Deimos.

Mais pelo instinto de sobrevivência do que por coragem, uma das garotas crava suas longas unhas no rosto do rapaz que a bofeteava e lhe invadia o intimo com a mão não mais desejável. Uma fúria imensurável toma os olhos deste, ao sentir seu sangue escorrer por sua face. Segura a cabeça da jovem pelo queixo, e n’um movimento ímpeto, explode o crânio da garota de encontro à parede. Um som mouco seqüenciado por um jacto de sangue, tingindo o muro de vermelho morte. Seus amigos, estranhamente apreciam o ato do rapaz, e sem se importarem com os gritos ainda mais histéricos de suas companheiras, repetem o mesmo gesto com uma violência e prazer mórbido redobrados. Os funestos amigos gargalham de modo diabólico diante aos cadáveres ainda convulsivos de suas vitimas. Abraçam-se, radiantes com o sentimento de superioridade recém-descoberto. A euforia os tornam irracionais. Três dos rapazes decidem repetir a brincadeira, escolhendo o quarto amigo como vitima. Ao invés de tentar fugir, de lutar, o carregado gargalha mais alto até o momento de seu crânio também explodir de encontro ao muro, e seu corpo entrar em funérea convulsão. Mal o recém-defunto cessou os movimentos epiléticos, seus amigos já estavam escolhendo a próxima vitima. Outro cérebro se abrindo. Outro corpo caindo em ritmo lúgubre. Restando apenas dois em pé, uma luta se inicia. Um tentando chocar a cabeça do outro de encontro ao muro tingido de morte. Lutam, se esmurram, por vários minutos sem haver um vencedor. Cansados, tomam a decisão que parecia ser a mais prudente no momento. Ambos correm e se atiram com a cabeça de encontro à parede. Caem no solo com os ferimentos jorrando sangue, e riem um do outro ao perceber o fracasso mútuo. Levantam-se rapidamente em meio às gargalhadas, tomam mais distancia do que da primeira vez, repetindo o ataque suicida. Um novo fracasso, novos risos histéricos, mais sangue escorrendo de suas mentes vazias. Agora, eles atravessam a rua cambaleantes. De uma distancia maior, usam suas poucas forças para correr de forma insana e se jogarem mais uma vez de encontro ao muro. Ambos caem em cima dos defuntos. Gargalhando, com os crânios abertos, jorrando rios de sangue, não conseguem mais levantar para uma nova investida. Ficam ali imóveis, sentido a vida lentamente esvair de seus corpos fracos.

- Venha!!! Venha!!!

Mayara atravessa a rua movimentada, os veículos desviam da pequena causando um novo acidente. Uma pequena batida de pára-choques com conseqüência muito maior. Um dos motoristas envolvidos tomado de uma ira descontrolada, sai de seu automóvel empunhando uma pistola calibre 380, e sem titubear, disparara 13 vezes de encontro ao outro motorista sem dar-lhe tempo de reação. A pequena se assusta com os disparos. Seus olhos lacrimejam, mas o choro é contido ao repetir da sinistra voz.

- Venha!!! Venha!!!

A curiosidade infantil de Mayara a fazem ignorar o medo. Ela volta à sua jornada, deixando um motorista tomado por uma ira descontrolada. O cidadão volta a carregar sua pistola e disparar contra tudo e todos. Fazendo vários defuntos, até que a última bala do pente fora projetada contra sua própria cabeça.

O chamado leva Mayara direto ao cemitério municipal. Ela adentra ao local escuro, com os olhos repletos de euforia. Seguindo até o fim do corredor, onde um homem coberto, por um manto negro e um gorro lhe cobrindo a cabeça, a espera. Tendo em sua retaguarda outras oito pessoas, com trejeitos de homens e mulheres vestidos da mesma forma do primeiro.

Mayara pára curiosa a poucos passos deste que a recebe. E o ouve falar enquanto retira o gorro, deixando amostra um crânio de caveira no local onde deveria ser sua cabeça.

- Bem vinda, Nyx, minha filha e deusa da noite. Há séculos esperamos por seu renascimento. Esses são alguns de seus filhos! Uniram-se a mim para lhe dar as boas vindas.

Com as mãos do estranho em sua cabeça, Mayara sente seu corpo sofrer uma estranha metamorfose. Envelhecendo anos em segundos. A menina se torna mulher. Asas negras surgem, esplendorosas, em suas costas. Mayara se torna Nyx, a deusa da noite. Ressurgindo de joelhos aos pés de seu pai, o Caos. Ela se levanta abrindo suas asas de azeviche, eclipsando a lua cheia. Adotando uma postura rutilante, Ela saúda com orgulho os demais presentes.

- Meus filhos! Que bom revê-los! Eu sou Nyx, a rainha da noite! E tudo que é meu, também lhes pertencem. Hoje se inicia a noite perene. Hoje as trevas se tornarão eternas. Vão e tomem o que lhes pertencem por direito. Vão...

Um a um, conforme ouve o nome ser pronunciado, descobre a cabeça, abre as enormes asas negras e alçam vôo de encontro ao céu trevoso com destino à civilização, aos pobres e insignificantes mortais.

- Éris, a discórdia; Apáte, o engano; Lissa, minha amada Lissa, deusa da loucura; Momo, o escárnio; Oizus, a miséria; Até, o erro, deus já tão conhecido pelos mortais; e por último, meus queridos gêmeos, Hipnos e Thanatos, o sono e a morte. Vão e espalhem as sementes de Caos! Vão! Vão! Vão! A luz do dia nunca mais será vista por olhos mortais!

Os deuses, filhos da noite, alçam vôo. E assim, fez-se Trevas...

LÊ AGORA!

A Rainha dos Pantanos - Henry Evaristo

Virgílio - Henry Evaristo

UM SALTO NA ESCURIDÃO - Henry Evaristo publica seu primeiro livro

O CELEIRO, de Henry Evaristo

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